segunda-feira, 7 de março de 2011

Búzios, Brigitte Bardot, Nelson Motta... Crônicas



Búzios


Brigitte Bardot


Nelson Motta

Eu não conhecia Búzios e quando tive a oportunidade fiquei completamente encantada. A beleza singela da vila impressiona e naquele dia o sol brilhava no céu sem nenhuma nuvem, o mar desfilava um azul esverdeado ... parece que o tempo alí passa de uma maneira diferente, mais lento, mais preguiçoso...

Lembrei de uma crônica que eu havia lido muitos anos atrás. Chegando em casa e na primeira oportunidade que tive fui procurar minha pasta de "recortes". É uma crônica escrita pelo Nelson Motta, publicada em um jornal que não consigo identificar e com patrocínio de uma campanha de 50 anos do BNDES. Gostei tanto que guardei por muitos anos. Agora resolvi guardá-la aqui:

Esperando Bardot - Nelson Motta

"Naquele tempo, uma viagem a Búzios era uma aventura que exigia grande paciência, disposição e coragem. Mas o tempo estava do nosso lado, éramos jovens e cheios de energia, era sexta-feira e ficamos dançando cha-cha-cha e hully-gully no Le Bateau até as tantas, quando meu amigo Ratinho propôs a grande aventura. Entusiasmados, decidimos botar o pé, ou melhor, o fusca, na estrada.

De Copacabana fomos até o cais da Praça Quinze e entramos numa longa fila de carros que aguardavam a chegada da barca que nos levaria a Niterói. Depois de uma longa espera, perdemos a vaga por um carro de diferença, tivemos que esperar a seguinte. Uma hora depois, visivelmente alcoolizados, atravessávamos lentamente a Baía de Guanabara sob o céu estrelado, um barco apitava na noite, as luzes da cidade se afastavam como as pérolas de um colar. Com o vento no rosto, cantávamos os novos sucessos da bossa nova que tocavam no rádio do carro, João Gilberto, Sylvinha Telles, Nara Leão, não poderia haver trilha sonora mais adequada.

De Niterói a Cabo Frio, noite adentro, o fusca azul enfrentou galhardamente um pista estreita precariamente asfaltada, cheia de curvas perigosas, bufou e resfolegou numa serra, cruzou pontes balançantes e duas horas e meia depois chegamos. Quase. Com o dia já amanhecendo entre as salinas, tomamos um café no posto de gasolina na entrada de Cabo Frio e pegamos o caminho para o paraíso.

A estrada para Búzios era pouco mais que uma picada aberta no mato, esburacada e poeirenta. Em mais uma hora estaríamos lá, qualquer sacrifício seria bem-vindo diante da possibilidade de ver Brigitte Bardot de perto. Estrela máxima do cinema francês, deusa do sexo que povoava nossas fantasias (e do mundo inteiro), Brigitte veio para o Brasil com o namorado Bob Zagury (um argelino de Ipanema que orgulhosamente a imprensa chamava de "franco-brasileiro") e se apaixonou por Búzios, uma vila de pescadores onde ninguém a conhecia. Para ela o Taiti era aqui. Para nós ela era a encarnação da beleza, da liberdade e do desejo. E Búzios, bem, era uma ruazinha de pedras em frente ao mar azul, com algumas cabanas de pescadores e nada mais. Não tinha luz, gás, água ou telefone. Ms tinha B.B.!

Onde? Perguntamos a um pescador e ele apontou uma casa de madeira num canto da praia. Subimos numa pequena elevação e nos colocamos atrás de uma grande árvore, em posição privilegiada para a nossa delicada missão, olho vivo e faro fino. Ficamos ali de plantão, caindo de sono, até meio-dia, quando finalmente as janelas verdes se abriram e vislumbramos uma cabeleira loura passando pela sala. Uma bossa nova começou a tocar na vitrola. Segunda-feira na faculdade ninguém vai acreditar, A porta se abriu e, finalmente, em todo o seu esplendor, Ela, bronzeada, cabelos ao vento, enrolada em um pano estampado. 

Inundada de luz e alegria, abriu os braços para o sol e, num movimento rápido, desenrolou o pano do corpo e lançou-o ao vento e nua como em "E Deus criou a mulher" correu para o mar azul diante de nossos olhos pasmos e de nossos corações disparados. Na faculdade ninguém acreditou.

Quarenta anos depois, saí de Buzios há menos de duas horas, vim escrevendo esta história no laptop e já estou chegando em Ipanema."

Lindo, né? 

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